Cheguei, bati à porta. O gabinete tinha um letreiro que dizia: "Gabinete de Jesus. É favor de perturbar e pedir ajuda caso seja preciso. P.s.: Nunca tenho hora de almoço". Fiquei um bocado a medo. Entrar no gabinete d'Ele? Como era Ele, afinal?
"Sim?", ouvi la de dentro. Era uma voz grossa. Abri a porta.
Sentado, com os pés sobre a secretária, estava um homem a ler o jornal. Nao lhe via a cara.
"Ah, és tu, André! Senta-te, senta-te!", e apontou para a cadeira em frente à sua mesa, sem desviar o jornal. Ia-lhe perguntar como sabia que era eu, mas ele fez um sinal de stop com a mao, e disse: "Sabes que eu sei dessas coisas antes de tudo!"
Sentei-me, encolhi-me ligeiramente no meu lugar, e olhei em redor. Era simples, o seu gabinete. Tinha imensas fotografias, de imensos pessoas a sorrir. Foi então que Ele posou o jornal, de ropante, olhou para mim, e disse:
"Gosto de trabalhar com alegria", e dito isto soltou uma enorme gargalhada.
Percebi que algo estava errado. Há minha frente estava um senhor... de cor negra! Levantei-me, preparado a verificar se este era realmente o gabinete de Jesus, mas Ele intrepelou-me:
"É suposto sermos todos brancos?"
Sentei-me de novo. O Jesus... era preto? Agora que penso, que impedia de o ser? Localmente, geograficamente e historicamente, tudo. Mas no Ceu, nada.
"Ontem era loiro, estilo Filandes. Hoje apeteceu-me mudar. ... Queres chocolates?", disse, tirando uma caixa de bombos... do Continente. As pernas continuavam em cima da mesa, nao se mexia muito, sorria imenso e era calmo.
Enquanto comia uns bonbos, fez-se silêncio. Ele olhava para mim, curioso. Ganhei coragem e perguntei-lhe:
"Desculpe...", mas fui subitamente interrompido por Ele. "Desculpe?!", perguntou com um sorriso ainda maior, "Nao! Desculpa! Isto é de Mim para ti. Vá, deixa-te de cerimónias, fala rapaz!".
Ri-me timidamente. Fogo, mas como é que Ele pensava que isto era? Facil? Era.. Ele!! Sorri com o meu pensamento, e continuei:
"Desculp...a, Jesus, mas ainda nao percebi bem o que estou cá a fazer."
"Isso é mais que natural. Chamei-te, há uns tempos atrás, nao sabia é quando virias! Bom, conversas à parte, toma e lê isto." e tirou de uma pasta cor de pele, pos em cima da mesa, e endireitou-se na cadeira.
Peguei na pasta. Dizia: "CONFIDENCIAL" , bem sublinhado. Em baixo, dizia: "André Fernandes Ferreira". Abri, e na primeira pagina vinha uma fotografia de alguem que eu bem conheço.
"Sara?! Sara Ferreira?!", exclamei. Nao percebi porque é que a Sara estava numa pasta com o meu nome, a dizer confidencial.
"Sim, André. A tua missao."
Claro está, fiz cara de parvo. Jesus riu-se, e continoou:
"A tua missão passa por estares sempre ao lado dela, quando for necessário"
Parecia algo estranho, esta missao. Estar sempre ao lado dela, sabendo que ela tem namorado, soava-me... estupido. Isso faço com qualquer amigo que necessite. Ele percebeu, claro está.
"Não poderás perceber, mas podes fazer. E é tudo o que tenho para te dizer."
Dito isto, levantou-se. Num ápice, visto um casaco, e preparou-se para sair. Foi então que percebi que a pasta tinha mais folhas, e fiquei curioso. Quando me preparava para ver o resto, Ele pos a mao por cima, muito educadamente, e retirou a pasta.
Quando cheguei a casa, olhei para a porta do meu quarto. Lá ainda tenho um papel do Grupo de Jovens em que a letra dela dizia: "Obrigada por olhares por mim :)". Ora... eu é que agradeço!