segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Obrigado

Depois de uma venda desastrosa de jornais na missa dos escuteiros, o animo era pouquissimo. Domingo nao prometia ser um dia bestial, bem pelo contário, prometia ser uma besta. Contudo a minha falta de fé mais uma vez desmontrou que ha Algo a mais que isso. Ja Alguem me tinha dito, nessa noite de sabado: "Nao te preocupes, vai correr tudo bem!". Por mais que quisesse acreditar, era impossivel.

Levantei-me bem cedo. O dia prometia ser longo. Ás 9:30 estava na Igreja de São Lourenço. Dirigi-me à sacristia, aonde eu esperava que estivesse o Padre Jorge. Afinal nao, era a vez do P.Filipe. Recebeu-me com um sorriso e perguntou-me ao que eu vinha. Expliquei-lhe a situação do Afonso, e a razao da venda dos Jornais da Catequese. Ele ficou muito baralho, e pediu-me para, na acção de graças, eu ir lá falar à frente.

Nao fiquei ansioso nem com medo. "Quem toca para 'multidoes', tambem sabe expor decentemente o problema para uma igreja cheia", pensei. Enquanto esperava ansioso a chegada da Andreia com os jornais, o tempo passava. A acção de graças aproximava-se, e jornais, nada. Meio baralhado, dirigi-me para o ambao quando terminou a comunhão. O Padre Filipe fez uma pequena introdução.

Enquanto isso, fitei as caras das pessoas. Era tudo gente idosa, cabisbaixos, acompanhando de certo o tom pobre e lento das musicas, embora cantadas com fé de quem so tem olhos para Ele. O P.F. passou-me a palavra. Eu estava debruçado sobre o ambao, e resolvi falar, decidido.

Comecei por falar do jornal, do propósito da venda desta edição, e depois tive uma frase que saiu e surpreendeu-me: "Podia ser eu, o meu irmao, o teu filho, o teu neto, não é. Saibamos dar graças a Deus por isso, mas saibamos tambem ajudar quem precisava.". Terá sido a formula para o P. Filipe voltar a falar.

Chegando-se perto do ambao, revelou-se: "Dizem que os jovens nao fazem nada? Aqui teem. Dizem que nao sao activos? Pois eles aqui estão. Ainda no outro dia vi imensos a participarem no Banco Alimentar Contra a Fome, de voluntariado. Onde estao os jovens que nao fazem nada? Devemos todos dar um euro, contribuir para esta causa, que sabemos que será entregue em boas maos!". Eu continuava no ambao, com um sorriso incredulo do que acabava de ver. E do que acabava de ouvir: enquanto o P.Filipe falava, ouvia-se o tilintar das moedas que as pessoas começavam a procurar no bolso.

Terminei o discurso, cheguei lá fora e estavam a Joana Marto e a Andreia, sorridentes, com os jornais na mao. Quando a missa acabou, foi a loucura. Toda, mas toda a gente que esta la dentro insistiu em dar dinheiro, as notas de 5 pareciam que choviam, a mensagem que queriamos transmitir nao podia ter sido dada da melhor maneira. Nao é de admirar que tenhamos os 3 ficado comovidos. As pessoas passavam por nos, davam o dinheiro, recusavam o jornal e ainda diziam: "Boa sorte para o rapaz, e bom trabalho!". E nos diziamos..: "Obrigado!"

Estavamos parvos. De tal modo que quisemos voltar a repetir a receita no Seminário da Luz. Era justo, nao era por nos, era por alguem que precisava. Mas aí tive outra vez receio. O Seminário da Luz era outro "estatuto". Por isso pedi ajuda a quem sabia que me podia ajudar: F. Albertino. Impecavel, la estava eu à hora combinada para falar. Fui menos agressivo, mas voltou a funcionar. Os jornais que eu levava esgotaram-se duas vezes, e era curioso ver pessoas que ja tinham comprado o jornal no dia anterior (sabado), voltarem a comprar.

No final, ja nao tinhamos quase mais jornais, e ainda faltavam duas missas. Tinha que ir para casa, embora ainda fosse a tempo de ver os sorrisos nas caras dos Nós, que diziam "Obrigado", incessantemente. Sorri tambem. Afinal, estavamos todos unidos por uma causa.

Foi para casa com a sensação de que metade do dia estava cumprido. Faltava a outra, e a mais decisiva.

Tinha sido convidado há umas semanas atrás para ir tocar a Alverca. A ideia era eu abrir o concerto com uma peça para orgao, e acompanhar o coro nas duas ultimas. Aceitei, sem olhar a datas, e sem olhar ao que eu tinha que tocar.

Foi uma optima expriencia. Era o meu primeiro concerto em que estava envolvido, nao sendo com ou atraves do IGL. Soube bem. Foi uma longa tarde de ensaios, mas nada soube melhor do que perto das 6 tarde, sentar-me dentro da sacristia numas cadeiras muito confortaveis que para la haviam, enquanto o coro ensaiava. Era o descanso de semanas, sabia bem. Nao tinha que fazer nada, soube bem.

O jantar passou-se, chegava a altura do concerto. Mais uma vez nao estava nervoso. Seria do publico, que nao era decididamente o mais entendido na matéria? Ou seria porque... ? Foi porque. Quando o concerto começou, fui sentar-me ao orgao. Tinha os olhares todos fixos em mim, mas passou-me tudo sem me incomodar. Ao meu lado tinha a Laura, que iria virar as páginas. Sentei-me, parei, baixei a cabeça, e os oculos iam caindo (estao a precisar de uma afinaçaozita!). E quando comecei a tocar, consegui sentir a musica outra vez. Era uma sensação rara. Até que, consciente e seguro do que estava a fazer, lembrei-me de Alguem. E um grande sorriso apareceu na minha cara. Tudo estava a correr bem, mas porque alguem tinha acreditado mais em mim, do eu próprio.

Quando parei, soaram as palmas. Com um sorriso, esbocei um "obrigado", e sai. Voltei, minutos mais tarde, para acompanhar o coro. E quando estavamos todos reunidos a agradecer as palmas, depois de termos empurrado o (grande!) maestro para ser ovacionado, empurraram-me tambem a mim, para frente daquela gente toda, para ser aplaudido outra vez. Agradeci, mas agradeci mais, muito mais, a esse Alguem, que insiste em marcar o meu caminho, mesmo quando ja por vezes eu nem acredito em mim.

Um Domingo fantastico. Obrigado!

2 comentários:

Tiago Krug disse...

=) ...

Anónimo disse...

Espectacular André. Obrigada por coisas assim. Nao sei que dizer.