quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Música (ou simplicidade)

E por entre a chuva, o carro seguia quase automaticamente o caminho até à Igreja. 

Quando cheguei, reconheci o local pelas poucas vezes que lá estive. Entrei. Uma senhora, baixa, atarracada, mas com um caminhar ironicamente rápido, cumprimentou-me.

"Boa tarde, sou o André Ferreira, o organista que vem tocar a missa das 7", disse-lhe, anunciado-me.

Com um sorriso de alegria, talvez pela minha juventude, a senhora respondeu:

"Ah, sim sim, o Sr Padre disse-me que viria!", e vendo que nao tinha a chave do orgao, apressou-se a ir buscar a um armário, empoleirando-se numa cadeira, dentro da salinha que estava logo à entrada da pequena igreja.

"Sabe onde é?", perguntou, ao entregar a chave. 

"Sim, ja ca estive algumas vezes", respondi, com um sorriso. Apontou-me o caminho. 

Subi as escadas de madeira, meio tortas. Era estreito. De lado, a parede ja meio cinzenta, do outro, um amontoado de recordaçoes, adereços natalicios, um infindavel numero de coisas que conferiam uma especia de arrecadaçao aquele espaço.

Subi. Depois de descobrir como se ligava o orgao, fiquei completamente atonito pela leveza do som que saia. Nao é descritivel. Mas é audivel.

Sentei-me, entao, sossegando da azafama do dia, e olhei em frente. Toda a fachada envolvente ao sacrário era em talha dourada, que mesmo no escuro da tarde, parecia ter um brilho especial. A igreja, pequena, sem acustica, seca, parecia igreja de aldeia.

As pessoas iam chegando, mas poucas. Ao inicio contavam-se pelos dedos das maos. Falavam, nao muito baixinho. Entretanto o Sr Padre chegara.

Apressei-me a descer as escadas e ir ao seu encontro. Um sorriso profundo esperava-me, assim como as peças que iria tocar. Conhecia tudo, e fiquei satisfeito por assim ser, dá outra tranquilidade.

O Sr Padre iria cantar a solo, e disse-me: "Irei ensaiar com a assembleia daqui a pouco." Achei curioso. A assembleia nao passava de 3 dezenas de pessoas. Eu contei.

Na verdade, mais uma vez ficaria surprendido. Nao só se revelou um excelente solista, com o Sr Padre conseguiu por a assembleia a cantar a plenos pulmoes. 

É isto que me toca. A simplicidade das coisas, e o sabor que a música leve. Senti-me profundamente feliz, e se isso é explicavel, nao o sei fazer. Senti-me bem. E sei que se a missa durasse 2, 3 horas, estaria com o mesmo sorriso.

O sol ja se tinha apagado, mas naquele dia de chuva, era questionavel se alguma vez ele teria acendido. 

A vida tem mais sabor assim, nas coisas simples. Ha quem se maravilhe com coisas imponentes. Eu tambem. Mas acabam por ser as mais simples que me dao um gozo enorme.

E o som do orgao, embora nao fizesse eco, preenchia e perdurava. Porque um som daqueles nao se esquece.

3 comentários:

Joanamaro disse...

Porque é assim a felicidade, simples.

baGa disse...

ainda bem que há dias assim :)

Tiago Krug disse...

=)