Era meia noite e nao conseguia dormir. Pedro dormia no quarto ao lado com a Claúdia, visita mais que frequente nesta casa. Fui ao quarto deles e, feito avô, puxei-lhes o cobertor que se encontrava estendido pelo chão. Agarrados um ao outro com força tal que até sorri ao ver a cena. Até a respiração se encontrava sincronizada. "Quem o viu e quem o vê", pensei ao olhar para Pedro.
Saí, fui até à varanda. À minha frente, grande parte do cemitério de Benfica. Nao me faz confusão nenhuma, até é ponto de reflexão. Por vezes dá-me a consciencia das gerações que passaram, e que eu agora faço parte tambem de uma. Da importância que temos agora na vida.
Continuava debruçado na varanda a pensar, quando me lembrei de repente de uma coisa que achei interessante. Há uns dias atrás, um jogador do Sporting, Vuckevic, disse que não gostava do futebol. Nao gostava de ver futebol (detestava, aliás), so gostava de jogar. Muitas pessoas ficaram chocadas, mas acho que entendi perfeitamente o que ele queria dizer. Porque eu detesto órgão. Não suporto estar num concerto de órgão, porque pura e simplesmente nao sou eu a tocar. Nao é egoncentrismo, não é por mal, mas nao consigo. Mexe comigo.
Pedro surgiu então, acordado de certo pela invasao que acabara de fazer ao seu quarto.
-Então irmao? Outra vez perdido nessa cabeça?
Não pude disfaçar, nao fosse ele o Lado-Oculto. Preferi manter-me calado, ao que ele disse:
-"Felizes os que nao vendo, acreditam".
Dito isto, saiu.
Há 9 anos