segunda-feira, 24 de março de 2008

Into the wild



"Happiness is only real when shared."

Custou-lhe, mas percebeu :)

domingo, 9 de março de 2008

O bom samaritano

Em dois dias, podem-se fortalecer grupos, amizades, sorrisos, enfim...

Sexta feira, 19 h: Preparava-me para ir para Fátima com o Zé Maria, de autocarro. Iamos encontrar-nos com o restante Grupo de Jovens de Carnide (GJ), na casa do Bom Samaritano. Prometia ser brutal, mas revelou ser melhor que isso. Marcou.



A minha ideia e a do Zé era irmos dar com a tal Casa por nós próprios, sem dizer ao Frei Bruno, que era suposto ir buscar-nos à estação. E entao, às 9:30 da noite, num frio cerrado, pusemo-nos a caminho. Um taxista disse: "Muito facil: contorna a rotunda e sai na saida que diz Leiria. E depois é sempre ir em frente, nao tem que duvidar!". Mas na verdade a certa altura chegamos a uma bifurcação, e tivemos que ir bater a uma casa para saber aonde ficava o caminho certo. Enquanto esperavamos que a porta se abrisse, o Zé comentou: "So falta aparecer um gajo com um caçadeira a dizer: "FORA DAQUI, JA, OU EU DISPARO!"." Nao foi, mas ficamos sempre na expectativa que podia ter acontecido. O senhor que apareceu foi simpático, e lá demos com a parte certa da bifurcação.


Contudo as nossas "aventuras" nao paravam ali. Quanto mais avançavamos, mais longe ficavamos da real povoação, as casas escassavam, e via-se que nao estavam habitadas. A certa altura chegámos à "Casa de S. Francisco". Pensámos que era lá, e batemos freneticamente à campainha. Dado que nao respondiam, resolvemos continuar em frente. E a certa altura vimos ao fundo uma enormmeeee casa (mas mesmo grande), e uma seta no meio das silvas a dizer, apontando: "Casa do Bom Samaritano". Tavamos com fome e cansados da viagem, soube bem.



Batemos à porta. Abriu-nos a Irmã Ana, como viemos a descobrir que se chamava. Depressa apelidar-lhe-iamos de "Nossa Senhora", visto que falava e actuava de uma maneira que mais parecia ser a Mãe de Jesus. Entrámos numa sala, e lá estava o grupo todo: Frei Bruno, Tiago, Carlos, Ana, Rita, SaraF, SaraT, Teresa, Alex, e mais uma irma, a Irma Maria Jose.


Sentámos e começámos a ouvir a Irma Maria Jose a falar da casa aonde nos encontravámos. Eu pensava que era simplesmente uma casa de retiros, tal como outras tantas aonde ja tinhamos estado. Mas nao. E por isso é que o retiro passou a marcar. A Irma falava de "crianças", "muitas crianças", que eram felizes, que geralmente vinham de familias que nao tinham condições para acolher. Confesso que fiquei um bocado baralho. Mas afinal aquilo era um lar de acolhimento de crianças?


Mas tudo se complicou qd a irmã começou a falar de "crianças especiais". Que nao sabiam nao ser felizes. "Beeem, fazem disto um paraiso, caramba!", pensei. Até que a Irmã Ana passou uns slides de PowerPoint com imagens da instituição. Na minha cabeça fez-se um grande "AH, Ja percebi!".



Afinal a Casa do Bom Samaritano acolhia mulheres com deficiencias mentais. Tivessem elas 18 ou 34 ou 88 anos. Eram mais de 100 pessoas, entre funcionários e "crianças". Depressa percebi que o termo "criança" era bem aplicado. No fundo, como vim mais tarde a descobrir, o seu comportamente era igual à das crianças. No entanto, passavam a vida inteira nesse estado. Habitavam lá algumas Irmãs, da Divina Providência. Creio que foi estranho o enfase que deram à Divina Providência: a Irmã Ana começou por dizer: "Voces vieram cá por uma razao. Tudo aconteceu por uma razao. E Ele sabe qual é!". Estremeci. Eu e o Carlos ficámos um bocado entroalhados, como quem até tem medo de ouvir aquilo. Mas no final do retiro, ela ate tinha razao.


Fui jantar, com o Zé, e pouco mais se passou nessa noite. Fomos desde logo proibidos de nos encontrármos durante a noite com as raparigas, regra que sabádo à noite foi quebrada sem qualquer problema.



A noite de sexta passou-se a comer aparas de óstias. Sim, temos um fascinio por aparas de óstias, que é exactamente aquilo que sobra quando as ostias sao confeccionadas. Absolutamente divinal e viciante. Aliar isso a um quarto quente, e com uma boa conversa, e as horas prolongavam-se. O dia de sexta acabava.

Sábado. Relembro agora o que a minha namorada escreveu no blog vizinho: "Ha quanto tempo não rezo como deve ser,com tempo, sem pressa.". Sorri, pois era o que eu tinha sentido até sabado de manha. E era pena, pois quando foi o momento de nos retirarmo-nos, cada um para seu lado, sobe bem. As partilhas de reflexão tambem. Senti que afinal nao era só eu que andava a cometer o mesmo erro.



Á tarde fomos conhecer as Meninas. Foram emoções fortes, pois uma coisa é falar-se, outra é ver ao vivo. Foi uma sensação estranha, mas saí de lá melhor que ao que tinha entrado. Foi mesmo estranho, mas ainda assim volta a repetir a experiencia (até estamos a pensar voltar lá para fazer uma semanita de voluntariado, nao é malta? :P)

O dia passou-se sempre em grandes conversas, principalmente naquelas em que a Chica entrava, dando o seu habitual toque que nos deixava sempre com um sorrisao na cara, não tivesse ela uma maneira peculiar de ver a vida. 

Á noite fizemos uma reflexão bastante boa. Nunca tive numa oração que fosse má, creio que isso acaba por nao existir, mas sabe sempre melhor quando as pessoas que estão ao nosso lado sao As pessoas. No final da reflexão, fizemos algo que eu ja tinha feito algures noutro lado qualquer, mas que por mais que me tente lembrar, nao consigo: demos um abraço a toda a gente.

Talvez o que mais me impressionou foi o Carlos. Já la vao 6 anos (6 !...) em que nos conhecemos. Temos maneiras muito diferentes de ver a vida, mas respeitámo-nos sempre. Ao longo destes anos nunca houve momento algum em que desviámos a cara do outro, em que dissemos mal um do outro, porque isso é praticamente impossivel.



Carlao, lembras-te do retiro quando eu tava no 8 volume? Eras o MC Carlos, e até tinhamos o irmao da Leila, ja nao me lembro o nome, e outro gajo. Eramos estilo Jackson 5, mas só com 4, e um deles branco, eu! Ou lembraste de há 2 anos atrás, quando nos cruzámos com os frades de Varatojo, especialmente com o Frei Morgado, e eu tive que esconder-me o atrás de ti durante as orações ás refeições porque estava perdido de riso? Enfim.. Se contablizarmos as horas que vivemos isto tudo, sao poucas, muito poucas. Mas mesmo assim, suficientes para marcarem. Lembras-te dos "Los Duros"? Acho que "Man in Black" fica melhor... "Punts-ta-pa"! Enfim... ainda temos que saber por onde anda a Filipa, no fundo foi ela que deu origem aquela famosa frase: "Eu nao sei se é ela que está a tomar conta dos putos, ou se são os putos que estão a tomar conta dela!". Ou agora, na nossa ceia de Natal, quando a Sara foi contra o espelho da sala, porque achava que ali era a entrada. Enfim.. Acho que este retiro tem videos fenomenais, que nao poderei por aqui para nao denegrir a nossa (já por si reduzida) imagem.

Quando acabámos a reflexão, pediram-me para escrever uma Acção de Graças para a missa de Domingo. Era suposto fazermos em conjunto, eu pedi uns minutos so para fazer um telefonema. Quando voltei, tinha-me perdido nas horas: tinha estado 2 horas ao telefone, as raparigas ja se tinham ido deitar, e as aparas de óstia tinham acabado. Completamente ensonados, escrevi umas linhas no papel, e após consenso final, iria improvisar no final.



Domingo foi espectacular (Carlos, remember: "EPAH, NEM VAIS ACREDITAR! ACABEI DE CAIR NA BANHEIRA!" ... ... ... "epah, grande oceano que está aqui!"). A missa foi bastante boa, e as "Crianças" sabiam muitas orações de cor, e via-se que estavam concentradas (bastante mais que eu) naquilo que realmente se passava. Na Acção de Graças, acho que disse aquilo que realmente tinha que ser dito: Obrigado.


(ahahahhaahahhahahahahahahahahhahah. Nao resisti!)

O resto foi voltar para Lisboa. Vinhamos diferentes. Afinal a Irma tinha razao: quem saía de lá, nao saía igual. Foi uma realidade bastante diferente do custume, mas era preciso. Era preciso vermos com os nossos próprios olhos que temos razoes de sobra para sermos felizes. Parece, e é lamechas, mas é verdade. Acabámos todos por sentir o mesmo. Acabámos por sair mais fortes, nem que seja pelos laços que se fortaleceram naqueles momentos mais dificeis. Sabemos que vamos lá voltar, para ajudar. No fim de contas, o unico trabalho que eu la fiz foi por a loiça na maquina (e pensa uma pessoa que eu conheço: "Oh nao...!"), e eu prometi que fazia mais que isso!



O nosso Grupo de Jovens, ou GJC (Grupo de Jovens de Carnide), continua sem nome, e precisamos urgentemente de um. Os maiores disparates ja foram sugeridos ("Os pintainhos.."), portanto acho que qualquer sugestão é muito bem vinda.

Jesus, és o maior!



P.s.: "MAN IN BLACK!... ACTIVAR... POSIÇÃO!". Chica: "Oh meu deus, nao acredito que eles estão a fazer isto!"