quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Puzzle esquisito

Pedro subiu as escadas duas a duas, a correr.

- André! André! André! , gritava esbaforido pela corrida que tinha estado a fazer. Cansado do final do dia, eu contrava-me debruçado sobre o computador, numa tentativa desesperada para que algo entrasse na minha cabeça, em vesperas de teste. Um "Sim, diz", foi tudo o que eu consegui emitir. Ele continuava:

- Epah, nem sabes. Nem vais imaginar! É que nem te passa... , e isto sim, fez-me levantar a cabeça. Nao era nada genero dele começar frases com Epah, nem algo tao enérgico. Olhei para ele, tinha montes de adrenalina pegada aos olhos. Correria o mundo inteiro, se fosse preciso. Eu atendi o que se passava, mas continuava a tentar nao perceber. Meio atónito, balbuciei: "Quem é ela?"

Pedro nada disse. Fitava distante o luar lá fora. Sorria com um sorriso do tamanho do mundo. Amava, isso era certo. Até eu ri e sorri. "Quem diria", pensei eu, "que este tipo ainda ia conseguir uma namorada..". Entao Pedro virou-se, e respondeu-me com um ar mais sério:

- Não sejas preconceituoso, André. Há imensa coisa que ainda tens que aprender. , o tom de voz era mais calmo, quase paternal. , Contudo, para nao pensares que eu so "ensino", posso-te dizer que aprendi a amar.

Foi o delírio. Desmanchei-me a rir, dizendo no meio das gargalhadas: "Mas que frase bimba!". E nao me interessei muito pelo que ela significava. Pedro foi-se embora, parecia que alguma mensagem que me queria entregar, estava entregue.

Voltei a mergulhar nos livros, no computador, em números ficticios que passavam tudo o que eu imaginava. "Aprendeu a amar?!". O mestre, Pedro de Arimateia, aquele que tudo sabia, aprendeu? Senti-me ainda mais ignorante.

Quando me ia deitar, tinha um papel em cima da cama. Era a letra de Pedro, que dizia: "Mt 21, 22". E certas peças do puzzle continuam sem encaixar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Testes

Este post é parelelo! O seu reverso está em Dedos Livres.

São, claramente, o maior entrave na vida de um jovem. Senão vejamos:

Tenho amanha (Sabádo), às 9 da manha. Isso impede-me de poder estar totalmente no GJ d'hoje, impede-me de ir dar catequese amanha (o que contribui para que eu esteja um mes sem dar catequese), e acima de tudo, impede-me de ter "vida".

Talvez isso nem soe muito estranho se eu chegar ao teste e souber fazer decentemente aquilo. Contudo a Matemática tem destas coisas. Até ao 12ºano era tudo muito bonito, agora fica-se na expectativa de saber se afinal ainda somos capazes de algumas habilidades ou nao. Veem-se mais letras que numeros, veem-se teoremas e demonstrações. Deveria sorrir, pois gosto disso, mas "tudo o que é demais, enjoa!". E amanha pimba, fazer um teste de Álgebra Linear às 9 da manha.

Testes... Sem comentários.

So para concluir, deixo aqui uma cena caricata que aconteceu no teste da semana passada: num dos exercicios, havia algo que nao estava muito bem explicito. Um dos profs nao hesitou, e em vez de dar so um empurraozinho para depois os alunos chegaram lá, fez exactamente o que nao devia, começou a falar e a escrever no quadro o que significava aquele "hieroglifo". Depois ficou pasmado a olhar para o quadro, e ainda consegui dizer: "Huuuuuuuuum.... acho que nao devia ter dito isto".

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Silêncio murmurante

André Ferreira e Pedro Freitas. Concerto Final do Instituto Gregoriano de Lisboa, com a actuação do Coro Gregoriano, Coro Infantil e nós os dois, a Órgão.

Caras de crianças. Com responsablidade de gente grande.


Relembro agora, passado 5 meses, esse grande dia que foi o concerto na Sé de Lisboa. Talvez porque estou prestes a repeti-lo, e porque tem sido constante a pergunta: "Entao André, como foi tocar na Sé?". Não sei! Continuo sem saber. Estava literalmente perdido noutro lugar.


Deveria ter passado uma semana borrado de medo, so de pensar que ia tocar com a Sé cheia, e ainda por cima era uma peça a 4 maos, ou seja, se eu fizesse porcaria, ainda pior. Deveria. Mas nao passei.


Deveria ter vomitado, ter o estomago à volta, mas nao tive. Deveria ter tremido, ter vacilado, mas assim nao foi.

E tudo porque recebia mensagens que nao o permitiam. Ahahaha, como é possivel? Como é que os nervos passaram-me todos ao lado?

Ainda me lembro, quase como se fosse ontem. (Tambem nao passou muito tempo).
O Coro Gregoriano (aonde eu tambem cantava) tinha acabado de actuar. As palmas ecoavam pela Sé, o Coro saía de frente do altar, e eu ficava. Dirigi-me para o órgão. O Pedro já estava lá.
Minutos antes de ter saído da sacristia para cantar com o Coro, vi rapidamente o meu telemovel. Tinha la A mensagem. Aquela que faria tudo mudar outra vez. Tinha as palavras "ARRASA COM A SÉ" escrita como um berro e com um sorriso, de certo. Como poderia temer? Tinha quem mais precisava ao meu "lado".
E la estávamos nos os dois sentados naquele banco, com centenas de olhares recaídos sobre nós. Murmurava-se baixinho, enquanto nos preparavamos as partituras (vulgo "pautas"). Respirámos fundos. Creio que terei dito para o Pedro: "Vamos la crl, vamos la arrasar com isto.". Ele riu-se, e respirou fundo tambem. Ja nao se murmurava, falava-se. Era um barulho enorme e tive medo, por uns instantes, que o som não se ouvisse (irónico, eu sei, mas era bem possivel). Era eu que começava, que tocava a primeira nota, que diria a toda gente: "ESTAMOS A TOCAR, PAH!".
E assim foi. Mal toquei a primeira nota, um Lá grave, muito suave, nao soou a nada. O público falava imenso. De repente alguem mandou calar o publico com um audivel "SHIUUUU!" e.... um silêncio tremendo apoderou-se da Sé. Um silêncio quebrado pelo leve som do órgão, triste e melancolico.
A peça foi passando, o som aumentando cada vez mais. No final, os ultimos acordes eram autenticos berros dos tubos. O que passou pelo meio? Nao sei. Nao me lembro. Estava perdido noutra.
O último acorde... esse tao perigoso ultimo acorde. Ou acabava bem, ou era uma miséria. Felizmente acabou lindamente. Aos tirarmos os dedos dos teclados do órgão, o público começou lentamente a bater palmas. E la fui eu e o Pedro, à frente do altar, agradecer. Isso sim, choca. Comove. Não sei explicar. Uma sensação unica.
Saí, e so queria dizer obrigado a quem me tinha mandado aquela mensagem. Tenho a certeza absoluta que se essa mensagem nao tivesse aparecido como e quando apareceu, a história que eu estaria a escrever aqui seria bem diferente.
"ARRASA"!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Desconhecidos

Este post é parelelo! O seu reverso está em Dedos Livres.

Embora custume andar na rua com a cabeça a vaguear por pensamentos, várias vezes são as ocasiões que a palavra "desconhecido" tem significado. É comum ir aqui em Carnide, e as pessoas mais idosas passarem por mim, fazerem um sorriso e dizerem: "Boa tarde!". Eu sorrio. São desconhecidas, embora quase que saiba o porquê do "Boa tarde!".

É comum desviar-me desses pensamentos e prestar atenção a quem passa. Por mera curiosidade, várias feições revelam diferentes sentimentos. Olhares distantes, cabisbaixos, apressados, tudo.

18:30. Depois de ter estado no Gregoriano, apanhei o metro em Entre-Campos para o Marquês de Pombal. Cansado, tive a sorte de, no Marques, ter apanhado um Metro com lugares livres. Sentei-me. Ao meu lado estava um senhor que jogava freneticamente GameBoy, enquanto falava ao telefone. Olhei melhor para ele e reparei que obviamente era alguem que tinha crescido, agarrado ainda aos belos prazeres da infância.
Voltei a vaguear na minha cabeça, com o olhar fixado no painel que diz: "Proxima estação:...". Por momentos, desviei o olhar e reparei que a senhora que estava sentada do lado oposto ao meu tinha a cara toda vermelha. Talvez não me tivesse apercebido melhor da situação, caso ela não estivesse a chorar compulsivamente. Encolhida sobre si, enconstada o máximo possivel à janela, as lágrimas corriam sem parar. Tentava controlar os soluços, mas não consiga. Fazia impressao.
A palavra "desconhecido" ganhava, então, um novo significado. As pessoas que estavam nesse Metro aperceberam-se da situação, e notava-se um certo clima de "Quero ajudar, mas nao posso". Não? Não. Porque era desconhecida. Porque nada ligava essa senhora a quem estava no Metro, e ninguem se queria intrometer. Chorava, era claro que precisava de alguem que lhe dissesse "Está tudo bem.". Mas ninguem o podia fazer.
Retirei o meu olhar incrédulo, que durou meio segundo, de volta ao painel da "Proxima estação...". E quando sai em Carnide, ela ainda lá estava. A chorar. E percebia-se que era uma dor que destruia-lhe tudo o que tinha dentro de si.

Fui para casa a perguntar-me se devia ter dito alguma coisa. Mas o que? Que poderia eu ter dito? "Ora, não chore, a vida continua", parecia-me tao absurdo que quase me ri so de pensar nesta frase. Era impossivel dizer alguma coisa. Fica a intenção. Porque eramos todos, todos aqueles que estavam no Metro nesse momento, uns meros desconhecidos.

sábado, 10 de novembro de 2007

Caminho



Ontem, enquanto descia para o GJ, pensava na enorme caminhada que é a vida.

Olhei para o lado, e reparei que comigo caminhavam dezenas, centenas, sei la... milhares de pessoas, todas elas deixando a sua marca (umas maiores, outras mais pequenas, mas todas com o seu significado).

Percebi que há um imenso caminho para se fazer. Percebi isso com um sorriso na cara. Mais momentos fantásticos ainda estão por vir. Mas para isso tenho que caminhar. E não estou sozinho.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Fugacidade

Este post é paralelo! O seu reverso está em Dedos Livres.




Rápido! Não há tempo a perder! Mudar freneticamente de um lado para o outro!

Que dias.. Dias em que não temos tempo para nada, não temos tempo para nós, não temos tempo para o que nós mais gostávamos de fazer. A azafama é tanta que me perco na barafunda de um horário preenchido.

Tempo. Era tudo o que eu ansiava este ano, como até posso relembrar com uns posts anteriores. Tempo. É tudo o que me tem vindo a faltar. Tempo para Mim. Tempo para não fazer nada de nada, para poder abraçar a vida da maneira que eu gosto.

Nem me vejo como Eu. Vejo-me como uma máquina que trabalha, sujeita a não parar um minuto. Mas agora, enquanto escrevo, respiro fundo. "Finalmente!". Minutos em que posso parar e pensar. Algo tão essencial.. "parar e pensar".

Sorrio quando penso que é por este estilo de vida que darei mais valor a outro que venha a ter. Talvez antes tinha tanto tempo para poder fazer tudo o que queria, que não me apercebia da sorte que isso era. De certeza que da próxima vez ja saberei a sorte que é.

Mas isto sufoca-me. Perde-me. Só queria era que houvessem mais horas, alem do dia, em que fosse proibido fazer o habitual. Em que nessas horas, tudo era permitido excepto manter uma rotina. Fugir, porque não? Agora faço-o, mas é em pensamento, enquanto ando rápido na rua e anseio pelo fim do dia, para poder descansar em paz.

Não há Pedro sequer. Esse apercebeu-se a tempo e resolveu "tirar férias". Agora estou entregue a este tempo, agora sou mais uma daquelas pessoas que vagueia apressadamente pelas ruas, mudando de destino, porque não se podem perder com o tempo. E porque não teem tempo para elas.