sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Como?


Cabeça descaída, rosto pálido. A luz entrava pela janela, e em vez de iluminar, dava um aspecto sombrio à cena, na qual eu próprio estava envolvido.

Como era possivel ter chegado aquele estado, perguntava-me. Sou uma autentica sombra do que fui. A pior parte de mim, aquela que todos tentamos esconder, revela-se. Porquê, pergunto-me. Porque é que tem que ser assim? Se alguem, há 2 meses atrás, me tem dito que isto tudo iria acontecer, eu tinha soltado uma enorme gargalhada. Agora ainda o faço, mas surpreendido como tudo fui acontecer.

Pedro chegou e sentou-se ao meu lado, sem nada dizer. Olhei para ele, mas não o conseguia ver.

"Desistir, não?" , disse-me, numa voz que tremia. Tambem ele estava incrédulo.

Fiquei parvo. Como podia ele dizer isso numa altura destas, pensei. Ainda não estava em mim, depois de ele ter dito aquilo, quando de repente ele chega-se ao pé de mim, e sussura-me algo ao ouvido. A voz dele tremia profundamente, e percebi perfeitamente que ele tinha estado a chorar bastante.

"Mas que... Mas estás parvo? Que se passa?", perguntei-lhe, enquanto me levanta, decidido a não fazer nada do que ele estava a dizer. Pedro, o meu lado-oculto, aquele que aparecia sempre nas alturas em que eu não estava lá muito bem, estava decididamente alterado.

Percebi-me rapidamente que era a minha vez de ser decidido, era a minha vez de dizer alguma coisa, era a minha vez de ser A voz. Acalmei-me, respirei fundo e disse:

"De certo te lembras da história das pegadas, de Jesus?" Pedro nada disse, mas percebi-me que sim. Continuei.

"Nunca penses que estás sozinho. Nunca penses que és o único ser do mundo que sofre." Quando disse isto, parei um segundo. "Elah", pensei, "ando a evoluir!". E sorri. Talvez isto seria uma daquelas coisas que estava sempre à espera que alguem me dissesse , e que eu nunca chegaria à conclusão por mim mesmo. Mesmo sendo algo tão.. trivial.

"Como podes falar em desistir? Assim, dessa maneira cobarde...? Nunca foi nada teu, esse tipo de cenas. Que se passa?"

Pedro levantou a cabeça. Tinha-se chegado para a luz, e a sua cara estava completamente lavada em lágrimas. Eu estava petrificado. Nunca o tinha imaginado assim, e de repente...

"Desculpa... Desculpa..." , foi a única coisa que soube dizer. Levantou-se, olhou-me nos olhos e saiu.

Eu continuava parvo. Mas afinal que se tinha passado ali? Afinal não era eu que tinhas razoes de sobra para estar triste? E no entanto soube-lhe dizer para não desistir. "Irónico", pensei.

Então apercebi-me de tudo o que se tinha passado. Deu para eu me aperceber, e cheguei à mesma conclusão enquanto gritava:

"NUNCA DESISTIR!!"

Mas rapidamente me calei, não fosse alguem ver a estranha figura que acabara de fazer, do outro lado da janela. Saí da sala, com um sorriso a aparecer na minha cara. Olhei para trás. E a luz, que dava um aspecto sombrio à cena, de repente iluminou mesmo.

1 comentário:

Cacao disse...

surpreende-a