sábado, 22 de dezembro de 2007

Conto de Natal

Nunca me quis aventurar por este caminho: Escrever. Mas como tenho lido ultimamente, nao sabemos o resultado se nao arriscarmos. Fica aqui entao uma pequena história, imaginada em 5 minutos, depois de ter visto a pessoa em questão.


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Tempos frios. As mãos congelam, andar na rua torna-se impossivel. Era noite de dia 23. Algures numa caixa de um supermercado, um senhor preparava-se para pagar. Usava um gorro sujo, assim como toda a sua roupa, gasta pela idade. Trazia consigo uma mochila às costas. Apenas comprava um garrafa de vinho e pouco mais. Pagou, e saiu lentamente do supermercado. Tinha que aproveitar os últimos momentos de algum conforto, para preparar a caminhada até casa.


Dezenas de pessoas cruzavam-se com ele, com uma pressa infernal de quem tem alguem à espera em casa. E entao lembrou-se que a senhora esperava tambem por ele. Fazendo um suspiro, pos-se a caminho.


O frio era aterrador. O seu casaco, gasto, ja pouco protegia do vento, e a chuva parecia teimar em querer cair.


Dezenas de carros passavam por ele, sem pressa. Lá dentro, as pessoas faziam sorrisos, cantavam, falavam... Era Natal! E entao lembrou-se que a senhora esperava por ele. Nao se podia atrasar.


O senhor vivia numa casa distante da cidade. Era um local onde os carros nao passavam e as luzes nao brilhavam. Nao tinha quartos, era muito simples. Abria-se a porta, e estava-se em toda a casa. A um canto, via-se com colchão com alguns lençois em cima. Noutro, uma pequena lareira fumegava, nao sendo suficiente para aquecer a casa.


A senhora levantou a cabeça quando o viu entrar, e sorriu:
- Entao, conseguiste alguma coisa?



O senhor posou a sua mochila, fez outro suspiro de alivio. Era bom estar em casa. Na sua casa.


- Trouxe-nos uma garrafa de vinho e alguns ingredientes para ajudar à nossa ceia de Natal.


A senhora riu-se. Ceia de Natal. Todos os anos, a ceia de Natal era uma mistura de saladas com algo mais requintado. Todos os anos, rezavam para que na próxima Ceia de Natal pudessem comer bem e estarem aquecidos. Todos os anos.


- Vamos dormir, disse o senhor. Amanha tenho que ir ver se arranjo mais qualquer coisa, quem sabe se nao é desta que comemos algo melhor!


Deitados no colchão, agarravam-se um ao outro na ansia de conseguirem o único calor que podia haver.. humano.


Frágil e com a idade a fazer-se sentir, a senhora precisava muito de descansar. O senhor esperou que ela fechasse os olhos, para tambem poder dormir. "Amanha é outro dia", pensou alto,"E vai ser amanha que vou conseguir encontrar algo para podermos comer decentemente. Enfim... Seja o que Deus quiser!". E vendo que a senhora ja dormia, pode descansar, finalmente.


Dormiam com um sorriso. Apesar de tudo, estavam juntos, e tinham a fé de que um dia poderiam estar numa Ceia de Natal.


Não sonhavam com mansões, com riqueza, com dinheiro. Não. Apenas sonhavam que um dia, poderiam estar sentados numa mesa, a sorrir ainda mais, e reconfortados para dizerem: "Feliz Natal!".


De súbito, o senhor acordou. A senhora continuava abraçada a ele, mas havia qualquer coisa de estranho. Olhou para onde estava deitado, e reparou que nao era o seu colchão. Era uma cama, grande, com muitos cobertores. Estava muito bem aconchegado. Nao fosse a estranheza da situação, teria ficado ali deitado, sem se mover.


Endireitando-se na cama, teve um enorme susto. Encontrava-se rodeado por muitas pessoas. Eram 10 pessoas de cada lado da cama, e em frente uma só pessoa. Sorriam para ele, mas nada diziam. O senhor beliscou-se, entao, para perceber se estava a dormir ou nao. Mas alguem lhe disse: "Deixa... isto é mesmo verdade!".


Abraçou a mulher com mais força, de tal modo que tambem a acordou. Sobressaltada, ela perguntou-lhe:
- Quem é esta gente toda?



O senhor nada dizia. Contudo, começou a olhar para as caras de cada uma, e riu-se. "Nao... vá, vamos lá acabar com este sonho.", pensou. Tinha reconhecido que as 20 pessoas que rodeavam a cama eram da sua familia, e tambem da familia da sua esposa. Mas no entanto, tambem sabia que essa gente toda ja tinha partido para o céu.

Só a pessoa do meio é que ainda lhe era desconhecida. Tinha barba, cabelos longos, um manto de purpura vermelho, era jovem. Foi a mulher que acabou por perceber, dizendo:

- Meu Deus!


E todos se riram da situação.

- Vá, tudo a ir-se embora. Quanto aos senhores, temos mais lugares na nossa Ceia de Natal. Quando quiserem, a mesa já está posta! disse o jovem de manto de purpura.

Ainda incrédula, a senhora responde um baixinho: "Obrigado Jesus!", ao mesmo tempo que o senhor, com um sorriso, afirma: "Sempre pensei que os anjos tinham asas!"

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