sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Reencontro-me

Tempos de Outono. O Natal passa-me ao lado.

O Natal de criança já se foi. O dia havia de chegar, eu sabia-o, mas é sempre estranho.
Lembro-me de chegar a casa dos meus avós e perder-me na alegria que era o reencontro após o verão, apenas 4 meses, que para crianças parece uma vida. O vermelho do Natal estava bem patente, eu conseguia "cheira-lo". Eram dias passados ansiosamente, tendo em vista aquela noite com toda a gente reunida.

O Natal de criança já se foi. Agora estou eu, em Dezembro, sem magia nenhuma. O André, aquele de 6 anos, puxa-me pelo robe e pergunta-me: "Já compraste algum presente para mim?". Eu sorrio. Apenas lhe digo: "Tenho andado ocupado, mas eu prometo.". Mal ele sabia que ja o tinha feito. Numa noite, antes de me deitar, escrevi numa folha aquilo que me vinha da cabeça. Um papel. Só isso. Contudo tinha tudo aquelo que eu "desejava", e abri-la-ei na noite de Natal. Um presente de mim para mim. Há certas alturas em que temos que ser um pouco egocentricos, pensei.

Enquanto escrevia isto, Pedro chegou. Vinha com um enorme sorriso, e eu sentia que mais alguem subia as escadas com ele.

"André?", chamou-me, "olha, trouxe-a comigo.", disse-me. Foi uma maneira um bocado estranha de apresentar a namorada, mas enfim... nem o nome acabei por saber.
Era de baixa estatura, morena, com um olhar muito cerrado. Os cabelos castanhos constratavam com a barba de Pedro, era estranho. Fez uma pequena vénia estilo séc.XVIII, e nao pude deixar de sorrir. Disse-me olá, e a sua voz ecoou. Era suave. Combinava em tudo com Pedro, interessante, pensei.

Meio bruscamente, virei-lhes costas e continuei a escrever, enfiado em papeis e papeis, o tempo nao permite outra coisa. Pedro percebeu. Veio ter comigo, e disse-me:

"Nao desistas. Ja faltou tanto. Ja foi tao pior. Um ultimo esforço..". Nao fosse a presença da sua namorada, e certamente teriamos tido uma enorme discussão, mas ele tinha razao.

Passado alguns minutos, desci as escadas, e na porta tinha um post-it de Pedro, escrito: "Lc 8, 22". Apeteceu-me amachucar o papel, farto daquelas frases sem nexo nenhum, com passagens da Bíblia em vez de conselhos práticos e eficazes como sempre fizera. Apeteceu-me, mas nao o fiz. Foi ler a passagem, fechei a Biblia, e reencontrei-me. Aos poucos. Mas vou-me reencontrado. Esse André que andou desaparecido após tanto tempo, com a brusca entrada na faculdade, vai-se encontrado. Mas o Natal, esse há-de sempre pertencer à criança. E ainda bem, é bom recordar memórias bem vividas. Amen.

2 comentários:

Cacao disse...

pa, adoro estas coisas q tu escreves:P

Tiago Krug disse...

É permitir tornarmo-nos meninos para deixar renascer o Deus-Menino em nós...

Abraço! =)