quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Entre poeira, terra, montanhas, luzes..

Seria uma semana perdida se nao tivesse decidido pegar nela: como todos os verões, eu ia para uma terra fronteiriça, em Trás-os-Montes. Uma pacata aldeia, a qual sabe sempre bem visitar para fugir à rotina/barulheira da cidade.

Sera uma semana perdida se nao tivesse decidido que isso so dependia de mim. Nao iria ter lá alguem (amigos) pois o grupo que lá se reune desencontrou-se. Apenas eu, com as minhas tias. Agora (enquanto escrevo) reparo que foi isso que fez a diferença: decidir que podia fazer daquela semana, uma semana diferente.

Quando, no sabádo, olhei para o despertador e este apontava 5:40 da manha, nao resmungei: ia fazer algo diferente. Apanhar batatas. Digno de qualquer expressao que nao tenha a haver com o seu real significado, foi isto mesmo que fiz numa manha de sabado, para a qual tive que acordar muito mais cedo que alguma vez fiz. Mas lá está: era algo diferente. Poder conduzir um tractor, sozinho, enquanto via o nascer do sol e saltava constamente, pois o caminho era muito mau, é algo diferente. Nao pude deixar de sorrir. A certa altura, uma das senhoras que estava connosco perguntou: "Entao André, quando trazes amigos para virem fazer o mesmo?". Lembrei-me logo do Migas. Imagina-lo a acordar cedissimo, a resmungar, mas ao mesmo tempo a rirmo-nos que nem uns perdidos enquanto o tractor saltava e saltava. Migas, se vires isto, fica descansado. Nao faço intençoes de te pressionar a ires apanhar batatas.

Relembro agora o último domingo que lá passei. No dia a seguir iria de autocarro de volta para Lisboa, e como a viagem é muito cansativa, costumo deitar-me muito tarde, para depois ir a dormir a viagem toda. E resulta.

Peguei entao numa cadeira de encosto, regulei aquilo para ficar estilo cadeira de praia, peguei num cobertor, e sentei-me na varanda. Á minha frente tinha uma paisagem única: Espanha enrugava-se em montanhas. Embora nao conseguisse ver, o Rio Douro separava-nos, lá no fundo. Era de noite, e ao longe viam-se as aldeias espanholas iluminadas, pequenos algomerados de casas que se destribuiam ao longo da paisagem. De vez em quando, via-se algumas luzes brilharem no meio da escuridao: eram carros que faziam viagens, de aldeias para outras aldeias.

Lá no alto, o céu estendia-se ao comprido, preenchido por pequenas estrelas. Tentei decifrar algumas constelações, mas depois reparei que chamava "Ursa Maior" a tudo o que visse e que me lembrasse que era constelação.

Liguei o mp3 e pus-me a ouvir as músicas que Alguem me tinha cedido. Ficaria ali a noite toda. Reparei entao na estrela que mais brilhava no ceu. Nem tinha que mexer a cabeça para a ver, estava quase à minha frente. "E se fosses Tu?", pensei, "Porque nao?". E comecei ali uma conversa em que ninguem se calava. Ora eu, ora Ele. "Chamar-me iam maluco, se me vissem.", pensei. E nesse momento alguem falou ao meu ouvido:

"Sabes que não..!", respondeu Pedro. Estava envolto num robe. Sentou-se ao meu lado, no chao, e contemplou a mesma estrela.

"Onde será que ela está agora? Será que está acordada? A sorrir? A fazer loucuras? Será que já dorme?...", perguntei em voz alta.

"Hey hey hey hey hey, amigo!... ... Ela?... Ela quem?", perguntou-me com um ar muito surpreendido.

"Nao sei... Ela! Quem quer que ela seja.." , respondi. Percebi a estupidez da minha resposta, mas o meu lado-oculto nao me popou um (merecido) sermão.

"Estás a pensar nisso outra vez? Mas és ... maluco, ou que?", disse-me num tom de voz mais bravo. Levantou-se, debruçou-se na varanda, olhou para a estrela e depois olhou para mim. "André.. nao é preciso preocupares-te com isso. Nao precisas de estar sempre a entregar-te a alguem. Ja pensaste porque é que nao te entregas a Ele?", e apontou para a estrela.


"Talvez porque isso seria radical de mais. Nao sei.. quer dizer... tu percebes... isso sao coisas que nao se decidem hoje e agora."

"Apenas queria que tomasses isso como outro caminho."
, disse Pedro, enquanto saia.

Voltei a ligar o Mp3. Pus-me a pensar (outra vez), e é verdade. Certas alturas na nossa vida estamos preocupados, numa bifurcação, sem saber para onde ir, porque temos medo das duas opções. E depois há outras alturas na vida, em que afinal estamos numa bilifurcação (uma furcação com muitos caminhos de escolha), e as opções sao todas excelentes e positivas. Percebi que estou +/- por aí. Nao cheguei ainda lá, mas ao longe consigo-a ver.

A estrela nao parava de brilhar. E a musica, numa voz feminina, sussurrava-me:

"Haja o que houver, eu estou aqui. Volta no tempo, meu amor. Volta no vento, por favor."


"Sem stress", pensei. "Já ca estou". Sorri, fechei os olhos, abracei-te e adormeci. E a estrela ainda aparece todas as noites. Tenho a certeza que nao irá sair de lá.

2 comentários:

Anabela disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anabela disse...

Amigo André! Quando estamos à procura do Amor, e quando acreditamos que ele existe, ele aparece de certeza! E está à tua espera, ou no tempo, maturidade, pessoa, mas está lá, à espera que o descubras e identifiques! Se tens vários caminhos que te agradam, então és uma pessoa feliz! Mas no Amor podes ter tudo!!E tens lugar para todos, porque não ocupa espaço, mas enche a vida de vida! Ainda bem que tens muitas paixões, estou a pensar na música, na matemática, em Deus e em alguém, não te preocupes porque podes entregar-te a todas elas e ao mesmo tempo, e continuando a ser "monogâmico"!Lol! Mas às vezes o teu superego Pedro não te deixa disfrutar do prazer de sonhar, já o topei! Mas, plo contrário, entrega-te ao que quer que seja! Só assim podes viver! O medo sempre foi mau conselheiro e o medo de sofrer é (dito o Pablo Neruda): morrer lentamente!